Thursday, May 25, 2006

Um sacrilégio jurídico
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O governo do cumpanheiro Lula tem se especializado em cometer sacrilégios nas mais diversas áreas. E o faz com a sem-cerimônia de um bêbado com o bolso cheio de dólares no centro de um lupanar de beira-estrada, achando que tudo pode. Assim, nomeou-se um gnomo esquerdopata para comandar nossa embaixada em Havana. O tipo chegou lá enriquecendo o folclore local: casou-se com uma moça quatro décadas mais nova em cerimônia das mais bregas, onde o casou chegou numa carruagem puxada por cavalos brancos e o champanhe rolava diante dos olhos atônitos de uma população marcada por meio-século de privações. Mas o detalhe chamativo era a inacreditável gravatinha-borboleta do imbecil, em tons degradee de azul celeste, contrastando com o terninho claro, quase igual ao da infeliz moçoila, que vivia seu conto de fadas, só que casando-se com o sapo ao invés do príncipe... O tipo, repulsivo, era o terror do restante do corpo diplomático, já nem sendo convidado para reuniões nas demais legações diplomáticas, por um hábito verdadeiramente obsceno: depois da terceira das muitas doses, sem mais nem por que, tinha o péssimo gosto de dar vivas ao comandante Fidel e entoar loas à revolução. Já está de volta à sereníssima República, candidato petista ao senado por Minas Gerais, onde – tenhamos fé – será sovado impiedosamente pelas urnas de outubro. A moça? Solteiríssima, deixou a ilha caribenha em companhia mais agradável do que a do sapo petista!

Apesar de ter como seu ministro da justiça um dos maiores e mais brilhantes advogados do país, além de excelente figura que é Márcio Thomaz Bastos, que me orgulha com sua amizade, vez por outra o governo Lula resolve cometer verdadeiros sacrilégios na área jurídica. Há poucos dias viu-se obrigado a retirar do Congresso Nacional a indicação de um ex-piloto da defunta Varig para a diretoria da Agência Nacional de Aviação Civil, a ANAC. O indigitado, amigo íntimo da pelega Graziella Baggio, presidenta do sindicato da categoria e velha amiga de Lula, não satisfazia um requisito APENAS: não tinha o curso superior, condição essencial (e legal) para ocupar o cargo. E como não checaram, meu Deus?! Agora, há outro estupro jurídico em andamento e que enche de vergonha uma das cortes mais antigas do país, o Superior Tribunal Militar, o STM. A história é absurda e desrespeitosa.

Aposentou-se, compulsoriamente, em dezembro passado, o ministro Antônio Carlos de Nogueira, cria do Sarney e advogado e servidor de carreira do Senado, que atuou com seriedade como ministro por uma década e meia. Foi uma indicação política, sim, mas dentro do aceitável, de alguém que preencheu os requisitos legais e estava apto para a função. Para o seu lugar, o indicado é Luiz Paulo Teles Ferreira Barreto, atual Secretário-Geral do Ministério da Justiça, um jovem com menos de 40 anos de idade, que gozaria, por mais de 30 anos, do status de Ministro daquela Corte Castrense. Gozaria, não fosse um pequeno detalhe: o rapaz inscreveu-se na corporativa e pirotécnica OAB, somente no dia 12 de dezembro do ano passado, exatos 11 (onze) dias antes da aposentadoria do Ministro Antônio Carlos de Nogueira. A vaga a ser preenchida é do chamado - e famigerado - quinto constitucional, mais uma prova da ação corporativa e deletéria da OAB, que garante a advogados "com notório saber jurídico e conduta ilibada" a chance de defenderem clientes como o Marcola na segunda-feira e na terça-feira acordarem Ministros de Tribunal Superior.

Diz o artigo 123 da Constituição, em seu parágrafo único, inciso I, que trata da composição do STM:

"Parágrafo único. Os Ministros civis serão escolhidos pelo Presidente da República dentre brasileiros maiores de trinta e cinco anos sendo:
inciso I - três dentre advogados de notório saber jurídico e conduta ilibada, com mais de dez anos de efetiva atividade profissional."

E no trecho em negrito, reside o pomo da discórdia: o jovem e inexperiente Luiz Paulo nunca advogou na vida !!! Inscreveu-se na OAB às vésperas de sua indicação, como se o mero cumprimento dessa formalidade pudesse enganar o resto do mundo, idiotizado, inerte, imbecilizado até, diante da "inteligência" do bando petista, que a todos pensa enganar e convencer. Um ativo senador de Sergipe, o Almeida Lima, requereu durante a sabatina e antes da votação, diligências acerca do preenchimento dos requisitos constitucionais, especialmente o tempo de advocacia. O resultado, óbvio, é que o felizardo Luiz Paulo, que deve ser um sábio e nós não tínhamos disso nenhum conhecimento, não conseguiu comprovar uma única causa advogada, uma defesa de membro do PCC que fosse, uma petiçãozinha qualquer...

Todavia, o inabilitado nome ainda não foi retirado, impedindo a indicação de alguém que preencha os requisitos. O impasse perdura por cinco longos meses e o STM começa a enfrentar problema de quórum qualificado, inclusive com adiamento de sessões plenárias, já que alguns Ministros, especialmente os civis, costumam proferir palestras Brasil afora, deixando um claro na composição da Corte e contrariando o dispositivo do Regimento Interno que exige presença qualificada de Ministros togados (civis) para que as Sessões Plenárias se realizem. Em suma, mais um espetáculo de incompetência, malandragem e oportunismo. O caso narrado é semelhante, mas ainda mais grave do que o caso da ANAC.

O Senado já deveria ter devolvido, por conta própria, da mesma forma como o senador Antônio Carlos Magalhães, com a coragem e o talento que até seus inimigos são obrigados a reconhecer, o fez com a indicação de um deputadozinho de Roraima, indicado para a mesma corte. O sujeito, de baixíssima qualidade intelectual, já tinha lá um irmão Ministro, cupincha de Ulysses Guimarães. ACM não teve dúvidas: “Isso é uma indecência! De jeito nenhum!” E o tal tampinha de Roraima continua na obscuridade, sem toga.

O STM, em um capítulo glorioso de sua vida, rejeitou a indicação do falecido ex-governador potiguar Aluísio Alves, que não foi necessariamente um cultor da honradez na vida pública, cassado por corrupção, jamais dando-lhe posse, apesar do velho “bacurau” ter sido aprovado pelo Senado.

Dois bons exemplos a serem seguidos.

ruynogueira@uol.com.br

Wednesday, May 24, 2006

Preparando o necrológio...
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Notas da coluna do competetente jornalista Cláudio Humberto, republicadas por quase 40 diários de todo o país:
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24/05/2006 0:00
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Sobrevida

O presidente Lula ordenou que a BR Distribuidora forneça combustível para a Varig até o final da Capa do Mundo. Teme pelos brasileiros em viagem para a Alemanha. Inclusive a Seleção, que usa avião fretado da empresa.
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24/05/2006 0:00
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Vai para o sal
Há três propostas de compra da Varig: um banco de agência única, o BRJ; funcionários (que citam prováveis recebíveis como garantia); e um banco de investimentos incógnito. Todos contra o BNDES: querem dinheiro de graça.
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ruynogueira@uol.com.br
A vingança do doutor Lembo



“Por trás de sua atual abundância,
ainda gemem velhas humilhações
e fomes jamais esquecidas”


Nélson Rodrigues

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O doutor Cláudio Lembo se esqueceu, ao vomitar sobre a “elite branca, má e perversa”, de contar que ele próprio não fez outra coisa em sua vida senão servi-la com enorme aplicação, rigoroso desvelo e impecável disciplina. Desde os corredores do Banco Itaú, como bedel preferido do doutor Olavo, até a vice-governança de São Paulo, passando pela presidência da falecida Arena e pelo secretariado de Jânio na prefeitura paulistana. Isso sem nos esquecermos de estrondosa sova eleitoral, quando disputando o senado contra Montoro e Fernando Henrique, em 1978, o professor Lembo – candidato financiado pela elite branca, má e perversa – chegou em quarto lugar, perdendo para os votos brancos e nulos.

Na ausência de qualquer tipo de iniciativa gerencial, de alguma obra por mais ligeira ou menor que fosse, sem ter o que agregar a uma herança administrativa medíocre, é verdade, mas longe de ser caótica, o cansado bedel do doutor Olavo se vinga da elite paulistana, que lhe financiou uma campanha ao senado – mas não lhe deu o mandato, que o recebeu – mas como agregado, que o usou para esse ou aquele papel secundário – nunca lhe assegurando, porém, o protagonismo, e a escracha, dizendo o óbvio, exorcizando seus próprios demônios, falando a verdade mais cristalina, mas omitindo providencialmente a vassalagem que ele próprio ofertou com seus ademanes de guarda-livros do Mackenzie, seu odor de naftalina e a absoluta falta de coragem que permeou sua vida pública.

O doutor Lembo não pode bater em quem lhe alimentou e achar que isso é normal apenas por ter dito a verdade. Nem pensar que dizer a verdade é o máximo para um governador do maior Estado da Federação. Dizer a verdade é o mínimo, até por ser natural obrigação de todos os seres pensantes da Terra de Vera Cruz ou de alhures. O doutor Lembo, festejando intimamente seus 15 minutos de fama, superiores (por inusitados, por impensáveis) às suas décadas de obsequiosa serventia aos antigos patrões da aristocracia financeira paulistana, será uma vírgula na história, oscilando entre o verdadeiro e o ingrato, entre o elementar e o mau caráter.

Lembro-me como se fosse hoje - e já lá se vão quatro longos anos... - daquela tarde em que o frio Geraldo Alckmin, esse envergonhado numerário da celebérrima Opus Dei, descartou sem maiores escrúpulos a candidatura de José Aníbal, um sujeito combativo e intelectualmente bastante superior a ele próprio, e fez do inofensivo e dócil professor do Bexiga seu companheiro de chapa. O ungido não apareceu na campanha. Não existiu como candidato. Ninguém jamais foi informado de que ele era o vice de Alckmin. Não teve direito a lugar no jatinho, nem na foto do outdoor. Não ocupou um metro quadrado em qualquer palanque em Santo André ou Martinópolis. Spot televisivo, nem pensar. Até a semana passada eram poucos os cidadãos paulistas informados de sua vetusta investidura em cargo pelo que passaram Washington Luís, Pedro de Toledo, Armando de Salles Oliveira, Adhemar de Barros, Jânio Quadros, Carvalho Pinto, Franco Montoro ou Paulo Maluf , poupando-me de citar os medíocres.

Não chegou ao governo por mérito algum, mas por subserviência aos seus patrões da elite branca , má e perversa. Não teve um único voto, mas a unção do provinciano Alckmin, hoje alvo de suas ironias e boutades ácidas. Traiu seus benfeitores e hoje colhe elogios de Lula, o apedeuta. Apenas isso já seria o suficiente para cobrir-lhe de vergonha! Comanda um governo que não é seu, com auxiliares que não escolheu, que não lhe prestam contas e tão pouco o tratam com a reverência que o cargo exige. Cláudio Lembo tem apequenado a investidura que ocupa, por obra de Alckmin, do acaso (segundo ele próprio, em momento de sinceridade) e dela, de sua antiga amada, amante e protetora, a elite branca, má e perversa.

O professor Lembo é, longe de discutir o seu caráter fraco ou a sua personalíssima noção de gratidão, um sujeito surpreendente, convenhamos. Com aquele ar pesado, aquela falsa modéstia, seu esforço em parecer austero, as sobrancelhas fantasmagóricas, algum pé na Transilvânia, esperou paciente e com estudada resignação por mais de 40 anos para colocar para fora o seu lado populacho, o seu lado imigrante, a sua porção italianinha, suas unhas de fora e em vendetta quase impecável, com a volúpia de um carcamano faminto diante da vitrina da Basilicatta, disse a verdade! Só se esqueceu ou não sabe, que a verdade na boca dos ímpios é tão desmoralizada quanto a própria mentira. E o seu grito valerá menos que um arroto com odor de gordurosa calabresa...

As décadas de obediência aos ditames dos inclementes e cerimoniosos Setúbal não resistiram a trinta minutos de entrevista com a esperta colunista Mônica Bergamo, uma profissional competente e hábil. Soltou todos os demônios que o oriundi trás no peito, vingando as humilhações recebidas, os sorrisos negados, os cumprimentos secos, os convites que não chegaram, as ante-salas calorentas, os chás-de-cadeira recebidos, os brasões que humilharam, quem sabe os aumentos salariais negados, os supostos talentos jamais reconhecidos, a eterna coadjuvância, os inóspitos segundo, terceiro, quarto lugares... Agora ele está vingado! Mesmo que o senador Tasso Jereissati, moderno coronel do Ceará, o ache um “carente” e o talentoso ACM, dono da Bahia, o defina sem dó ou piedade como um “debilóide”, ou uma grande acionista de seu antigo emprego se refira, grosseira que só ela, à “halitose do Lembo”, ele está vingado!

Um dia o surpreendente bedel da elite branca, má e perversa, colocou uma gravata preta pelo jovem filho que se foi para nunca mais, vítima de erro médico. Se a elite paulista, branca, má, perversa e burra, pudesse se personificar em um pescoço qualquer, não tenho qualquer dúvida de que faria o mesmo pelo filho adotivo que se foi, vítima de clamoroso erro de avaliação.
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Friday, May 19, 2006

A Dona Flor do peleguismo
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Nota da excelente coluna do jornalista Cláudio Humberto (www.claudiohumberto.com.br), reproduzida por quatro dezenas de diários em todo o país, mostra o estado de desespero e os métodos abomináveis que toda a canalha que trabalha contra o irremediável fechamento da defunta está lançando mão:

"Recuo
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Esta coluna revelou que o novo indicado do presidente Lula para a Agência Nacional de Aviação Civil não tem curso superior, como exige a Lei. Por isso, o Planalto retirou a indicação de José Carlos Barth, ex-piloto da Varig."

Um governo incapaz e incompetente, que envia uma mensagem ao Senado da República sem checar as condições técnicas e legais para sua aprovação. Um escândalo! Piorado pelo fato do indicado ser um arrogante ex-piloto da defunta, ainda ligadíssimo a ela e, também, digamos, um amigo muito pessoal da pelega Graziela Baggio, aeromoça e presidente do Sindicato Nacional dos Aeronautas, além de velha companheira do companheiro Lula.
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A presidente do desmoralizado SNA, explorando seu prestígio junto ao supremo apedeuta, induziu a presidência da República ao grave erro por dois motivos vergonhosos: tentar influir no processo político-administrativo em favor da defunta, nomeando para a diretoria da ANAC um ex-funcionário da própria defunta, e - pior de tudo - confundir a coisa pública com seus lençóis, numa caso lamentável de concubinato nepótico. É por coisas assim que o sindicalismo brasileiro não tem a menor credibilidade junto à opinião pública nem influi decisivamente nos processos político ou histórico. É, apenas, lixo.
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A bandejeira Graziela - querendo nomear o amiguinho de instrução primária - não tem estatura para ser personagem do inesquecível Jorge Amado, mas lembra Dona Flor.
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Wednesday, May 17, 2006

Cláudio Lembo não existe
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Lembrei-me, hoje ao ler a entrevista de Cláudio Lembo - uma figura sem votos que ocupa por obra e graça de Geraldo Alckmin o governo de São Paulo - publicada pelo jornal "O Estado de S. Paulo", de uma frase do inesquecível Mestre Roberto Campos: "No Brasil a burrice tem um passado glorioso e um futuro promissor".
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Entre outras estultices, esse indivíduo chama o bandido Marcola de "Senhor Marcola". Não pretendo comentar as paspalhices desse infeliz que vinge administrar o maior Estado da Federação em um dos piores momentos de sua existência. Peço aos leitores que o leiam nas páginas do vetusto Estadão. É uma vergonha. É um absurdo. Entrevista que merece ser lido e relida, de tão obtusa, mas, principalmente, de tão reveladora e surreal. Lembo confirma o que apenas se desconfiava dele: um despreparado, uma figura medíocre surgida dos gabinetes e da burocracia partidária.
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Paulo Maluf, atacado por ele em 1979, cunhou frase lapidar: "Cláudio Lembo? Eu acho que ele não existe! Existe?"
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ruynogueira@uol.com.br

Saturday, May 13, 2006

Palocci, essa nódoa
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O PT de Ribeirão Preto, por larga margem de votos, resolveu apresentar a candidatura a deputado federal do mais desmoralizado ministro da fazenda que nosso país já teve. Corrida da Esplanada dos Ministério por conta de corrupção administrativa e envolvimento com garotas-de-programa (todas elas, seguramente, de melhor qualidade moral que ele), a nefanda figura de Antônio Palocci está de volta nas paradas de sucesso.
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Esse homem, por patológico apego ao poder, apodreceu em público, decompondo-se moralmente, num espetáculo de indignidade pessoal e pobreza humana poucas vezes visto na história de pindorama. Quando - forçado - pediu o boné, já não valia nada, motivo de chacota e de desrespeito generalizados. Hoje, indiciado por múltiplos crimes, é candidato apenas em busca de imunidade parlamentar, ou seja, de impunidade pura e simples.
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Por ser absolutamente necessário que não nos esqueçamos dele, nem do grupo de assaltantes que o acompanha, republico artigo de 21 de agosto passado, vários meses antes de sua defenestração.

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PAVANA PARA UM PALOCCI DEFUNTO


"Tá lá o corpo estendido no chão..."

(João Bosco e Aldir Blanc)
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Tá esperando o quê para voltar para a sua terrinha? Acredita mesmo que o Brasil precisa de seus altos conhecimentos econômicos? Pensa que pode agregar algo ao serviço público depois que um homem de sua confiança o coloca frente à Nação na conta de um corrupto? Se crê um pilar dos fundamentos da economia nacional? Um iluminado, um avatar? Imagine! Poupe-nos. Saia fora. Mande que o motorneiro pare a orquestra um minuto e salte já. Não tenha a vã esperança de que poderá contornar o escândalo e restaurar o cristal trincado. Não dá. A lama, Dr. Palocci, já inundou seu gabinete, sua biografia, sua vida. O hímem da elite brasileira é flexível, pero no mucho. Permita que o seu chefe, apesar de notório indeciso e - desconfio - um caso típico de autismo avassalador, arrume alguém para o seu lugar. Alguém que nunca tenha andado com esses Buratti, Barquete, Valente, Valdomiro. Enfim, alguém limpo. Alguém que fale algum outro idioma, que conheça de economia, que não coma na mão alheia, que não obedeça ao florentino tucano Henrique Meirelles.
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Volte para sua terrinha, a pretensiosa e calorenta Ribeirão Preto. Duvido que os eleitores de lá, que não são bobos, lhe darão novamente a chance de ser prefeito e receber a terceira condenação do Tribunal de Contas do Estado de São Paulo por permitir (veja como estou sendo cuidadoso e elegante, Seo Palocci: permitir...) que roubassem na merenda escolar (seu primeiro governo) e nas cestas básicas dos programas sociais para a periferia (seu segundo governo). Du-vi-de-o-dó! Vai embora. A TAM e a GOL operam vôos com conexão em Congonhas. A Passaredo, faz Brasília-Ribeirão Preto direto. E tem desconto nas passagens, tem promoção. Embora eu creia que o Doutor não esteja com esse tipo de problema que aflige tanto a nós, brasileiros: falta de dinheiro.
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Vai embora. Você comandou uma política econômica criminosa, danosa, de lesa-pátria. Você nos empobreceu, achatou nossos salários, diminuiu o nosso poder de compra, encheu as burras da banca praticando os maiores juros do mundo. Tá esperando o quê? Mais uma denúncia? Mais um escândalo? Mais uma garota de programa contando das festinhas romanas na QI 3 do Lago Sul? Mais um usineiro picareta de Ribeirão Preto contando que é seu sócio? Mais um jornalista pesquisando se é verdade que os seus parentes, aderentes e amigos estão biliardários? Se compraram, mesmo, uma usina, um hospital, um banco? Tá esperando o quê? O jatinho da empreiteira amiga ou o Godot do Beckett?
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Pense um só momento: nenhum ministro da fazenda desta sereníssima República jamais teve sobre sua augusta pessoa a sombra da dúvida moral. Você, agora, tem. Não se creia um perseguido. Se saiba, tão somente, um descoberto. Não se presuma insubstituível. Em poucos dias, talvez horas, você vai saber que não o é. Ao contrário, vai descobrir que o barulho na porta é o vento, que o café estará frio e sua mão na maçaneta dura indicará que os bajuladores já fugiram, já sentiram o seu ocaso terrível, o outono que desfolhou as esperanças de toda a canalha, a patuléia sedenta por assaltar a viúva. Ouviu? Tchau, Doutor.
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O Buratti alugou um palácio sem você saber? Ex-secretários seus (Barquete, Buratti) "operavam" em Brasília e o santinho não sabia, né? Então, tá. As malas vieram para o bem da corriola e o chefe nem tinha conhecimento delas. Ficamos assim combinados. Acredito para lhe servir... Não fique. Ajude a "acalmar o mercado", a segurar o dólar, a diminuir o "risco país" e outras coisas assemelhadas e que o Meirelles lhe ensinou serem tão importantes: dê no pé.
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De Brasília a Ribeirão Preto, você sai pelo Eixão da Asa Sul, chega em Luziânia, sobe para Cristalina, vira à direita, segue para Catalão, Araguari, Uberlândia, Uberaba, Ituverava, São Joaquim da Barra, Orlândia e, ufa, chega na cidade que lhe valeu duas condenações pelo Tribunal de Contas do Estado de São Paulo. Num carro bom, como o Land Rover do companheiro Silvinho Peireira ou no Ômega blindado do companheiro Delúbio Soares, são mais ou menos umas 8 horas de estrada. Ar condicionado ligado e o CD rodando, com as músicas cafonas dos cafonas Zéze de Camargo e Luciano, aqueles que animaram os comícios do PT e agora dizem que não receberam. Paga os moços, paga! As estradas, por falar nelas, estão uma merda. Uma mer-da! É que o ministro dos transportes, o Alfredo do PL, diz que não tapa os buracos porque as verbas não são liberadas pelo Dr. Palocci. Milhares de brasileiros, então, estão morrendo nas rodovias todas as semanas para que sua política econômica inflexível possa pagar juros impressionantes aos credores externos, para atingir o tal deficit primário. Em troca, os dândis de Wall Street lhe concedem sorrisos e dizem palavras agradáveis (que o Meirelles traduz, já que vindas num idioma que o Doutor não domina). Pelas costas vão observar sua falta de jeito, caçoar de sua língua presa, zombar de seu terno mal-cortado. Bem-feito. Quem mandou sacrificar seu povo para agradar a essa gente falsa, que dá emprego ao patrão Meirelles?
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Não se iluda: chegou a hora. Saia, Antônio Palocci! O Galvêas, o Simonsen, o Delfim, o Bulhões, o Mariani, todos, TODOS, eram muito melhores que você e passaram. Alguns, até caíram. Os países precisam disso, de renovação, de sacrifícios, de crises, até. Mas não precisam de medíocres, de empulhadores, de desmoralizados. Sai. A porta da rua é a serventia da casa. Você já vai tarde. Passa no Pinguim e tome um chope. Aproveita e matute, como bom caipira, sobre como a glória é fugaz e o poder é transitório. Voam. Tchau.
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P.S. Separa algum, veja um jeito de esquentar a bufunfa. Os advogados são terríveis. Quanto mais competentes e expeditos, mais caros. Você vai precisar dessa gente, aposto contigo.
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Friday, May 12, 2006

Indaiá, a que dá no couro
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Não resisto à tentação de dar espaço à uma leitora, comissária de bordo da defunta que me escreveu carta desaforada, brabíssima, esculhambando-me de forma primária, mas virulenta. Não fosse esse freezer que trago do lado esquerdo do peito, teria sucumbido ao Incor frente ao primeiro de seus ataques. Diz que sou feio, ruim e pequeno "como o seu nome".
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Depois, diz que eu devo ser um cara amargo, desalmado e sem amor. E vitoriosa, dizia que eu não devo "dar no couro", mas que ela, naquela hora - era plena madrugada quando seus dedinhos trocaram as taças de cristal trincadas da decadente primeira classe dos aviões que os credores reclamam na justiça, pelo teclado de seu computador - ela, bem-amada, iria "fazer gostoso" com o seu consorte.
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Achei que era alguém querendo depor contra as comissárias da defunta - pelas quais tenho tanto respeito. Mas, com uma sequência impressionante de asneiras, a moça iniciou um diálogo internético comigo e disse outras coisas que não publicarei apenas por pena e sincera comiseração.
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Quando nossa troca de e-mails acabou-se e ela deveria estar "dando no couro", eu sentia um misto de nojo e de dó daquela pobre diaba. Não vale nem o processo que pensei em lhe tacar. Logo, logo, desempregada, como poderia indenizar-me pelos absurdos que escreveu e assinou?
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Porém, fiquei matutando madrugada adentro sobre a feiúra e a pequenez de meu nome. Preciso conversar com meu pai, ele também, um Ruy. E se vivo fosse, falaria com o doutor Ruy Nogueira, meu saudosíssimo avô, um catedrático humanista que foi batizado por Herculano César Nogueira, meu bisavô republicano, em homenagem ao seu ídolo, Ruy Barbosa. Mas, vou falar com papai. Espero que você, se se sentir tentada, tenha coragem e converse com o seu velho pai, viu, comissária Indaiá?
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ruynogueira@uol.com.br
Vaias para o lucro, que ele merece...
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A TAM e a Gol apresentaram balanços robustos, onde centenas de milhões de reais aparecem como lucro alcançado num ano em que a aviação comercial brasileira cresceu mais de 20%. Empresas pequenas ou nascentes, como a TAF, do Ceará, ou a Rico, sediada em Manaus, agregam Boeings a suas frotas. A aviação brasileira experimenta um de seus melhores momentos. Quem teve competência, seriedade e juízo (principalmente...) está colhendo os frutos do trabalho.
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Não vou tecer comentário algum sobre a moribunda marafona dos ares, aquela que quer sacar mais algum por conta de sua morte anunciada e tantas vezes adiada por juízes complacentes, credores sabidos e funcionários desesperados de bermudas em passeatas patéticas, como se palavras de ordem ou faixas chantagistas ("Lula você vai perder 100 mil votos se deixar a nossa VARIG morrer"!!!) pagassem a incrível dívida de quase R$ 10 bilhões - em verdade, ninguém sabe direito qual é o rombo, mas oscila e chega a este número aterrador.
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Abaixo uma notícia que hoje sacode o mercado aeronáutico e escandaliza os contribuintes brasileiros, os acionistas da defunta, os que pugnam por um país com empresas sadias, bem geridas, meritocráticas, modernas, honestas e eficientes - ou seja, tudo o que a pranteada não conseguiu ser ao longo de quase 8 décadas de vida à sombra do poder público e do monopólio.
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Essa semana, numa assembléia fantasiosa, numa espécie de "Woodstock no Santos Dumont", os funcionários da defunta, mais de 700 deles, numa demonstração de civilidade, urbanidade, boa educação e classe, vaiavam todas as aeronaves de outras empresas aéreas que taxiavam pela pista daquele aeroporto carioca. Vaiavam a lucrativa TAM, a maior empresa aérea do país. Vaiavam a vitoriosa Gol, que esse mês lhes tomou, com larga folga, o segundo lugar. Vaiaram o lucro. Vaiaram a competência. Vaiaram, também, os usuários, que estão fazendo o sucesso dessas empresas. Mostraram a pequenez e o desespero de quem perdeu. Retrato mais eloquente da cultura administrativa e do caráter predatório deles próprios, impossível. Não merecem a salvação. Não merecem mais centavo algum da viúva. Já nos custaram muito caro esses mal-educados.
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Fica minha pergunta, pertinente diante da grandeza de seu absurdo, da arrogância de seus mal-acostumados órfãos, da má-qualidade moral e empresarial dos que se apresentam como "compradores" (bandidos chineses, mafiosos russos, pelegos sindicais): vale a pena salvar uma empresa assim? Dinheiro nasce em árvore? Que tal aplicar na construção de hospitais, escolas ou estradas a maçaranduba que a velha e combalida defunta dos ares quer tomar ao BNDES para pagar no dia de São Nunca?!
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Varig tem prejuízo de R$ 1,477 bilhão em 2005
Sexta, 12 de Maio de 2006, 19h21 Fonte: www.terra.com.br
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O prejuízo da Varig teve crescimento de 1.700% em 2005, atingindo o déficit de R$ 1,477 bilhão. Em 2004, a companhia havia registrado um prejuízo de R$ 87,167 milhões.
Apesar de um crescimento de cerca de 20% nos vôos domésticos em 2005, a redução da frota e da oferta de vôos fez com que os lucros da empresa caíssem de R$ 7,054 bilhões em 2004 para R$ 6,403 bilhões no ano passado, uma queda de 11,12%.

Wednesday, May 10, 2006

Velório animado, coveiros malandros.
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Aí abaixo uma interessante opinião publicada no site www.invertia.com.br, abrigado no portal Terra. Evidentemente foi produzida por cidadão brasileiro esclarecido, que embora não tenha assinado com seu próprio e-mail (o que indica não existe) apresenta argumentos irrespondíveis. Mas é muito interessante e merece a transcrição.
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Estou muito ocupado, mas até amanhã acharei tempo de comentar o curiosíssimo "leilão" da defunta dos ares, num exercício de capitalismo às avessas, que ruboriza os empresários sérios, açula os aventureiros e diverte a todos. O BNDES, malandramente, diz que vai emprestar US$ 100 milhões para quem ficar com metade "boa" do cadáver. Não vai ser assim, mas os ingênuos parecem acreditar. Ninguém consegue responder a pergunta fatal, a que não quer se calar: e os quase R$ 10 bilhões de dívidas? Quem vai pagar? Todos fingem que se encontrou uma solução. Todos fingem que acreditam - como num verso de Pessoa - ser verdade o próprio fingimento.
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986. Gerson Brasil [sememail@sem.com.br] Brasil, 5/10/2006 8:28:11 AM

"Oh povo passional, emotivo / oh gente "in"-profissional, falida. Gente que tem coragem de parar o trânsito para ver o corpo extendido no chão, do acidente grave, atropelado pelo caminhão. Gente que tem coragem de falar mal de empresas bem geridas, defender as corrompidas. Gente que reclama dos roubos do governo, mas declara bisavó morta no imposto de renda. Artistas que moram nos states, fazem protesto, mostrando o dedo para o presidente, afinal na TAM eles têm que pagar passagem. Funcionários que "compram" uma empresa e acham que podem geri-la como a padaria do seu tio-avó português. Classe média que não paga nem o vale transporte da diarista, mas acha que a sua aérea mal administrada não pode falir. Gente que usa camiseta do SOS Mata Atlântica e joga bituca de cigarro pela janela do carro. Gente bairrista, que acha que empresa privada é patrimônio, gente que acha que é orgulho dos Pampas. Gente que confunde boa prestação de serviço com amizade. Gente que paga juros do cheque especial, do empréstimo pessoal, sem ajuda de ninguém, mas que aceita que nosso dinheiro pague a dívida de incompetentes. Oh gente solidária, oh gente inconseqüênte, incoerente. Gente que vibra com um leilão absurso, onde alguém vai comprar um filé, que vai continuar sendo digerido pela pessoa mercado, enquanto a ossada oficialmente viva, vai continuar fedendo, devendo. É como fingir que a mulher morreu para receber o seguro de vida. O que ninguém mesmo quer saber, é quem paga a dívida. A Varig é a cara do Brasil, do Reino de Gerson, do jeitinho brasileiro. É a Varig quebrada, suja, corrupta, com mais de 200 funcionários por avião, onde o saudável é 80, mas que é linda por fora, amena, amiga. De coração eu quero que as linhas da Varig sobrevivam, que o bom espírito da prestação de serviço da Varig, tomara Deus, e os bons homens de negócio, com uma estrutura decente. Mas orgulho mesmo eu tenho de minha família, de meus amigos, de minha terra, e não de quem demagogicamente usa seu nome e acredita que isso é favor. Gersons do meu Brasil, procurem ler. O nome do Brasil que a Varig leva pro mundo é o de mal pagadora. As empresas de leasing elevam suas análises de risco para qualquer empresa brasileira desde que a Vasp privatizada de Canhedo também não pagava nada. E a Varig, ao invés de recuperar, piorou essa fama. A Varig não paga nem ela mesma. Ela conseguiu vender a VEM e já está devendo para ela também! Leiam, Gersons, empresa privida é orgulho de seus donos, não de seus "stakeholders", empresa boa não precisa de dinheiro do governo, precisa tratar bem clientes, e concorrer honestamente com o mercado. Gersons, o Brasil tem mais motivos de orgulho. Tem uma outra gaúcha, a Gerdau, espalhando aço brasileiro mundo a fora, tem a Votorantim, a CVRD, a Petrobrás, a CSN, as Usinas de Álcool de SP, o petróleo fluminense, tem a Embraer que rasga os céus do mundo com tecnologia brasileira. O Brasil tem a Itaipú, o Brasil tem a Embraco, tem a Seleção Brasileira. Definitivamente, o brasil precisa das linhas aéreas, precisa de gente, mas não precisa mais desse modelo arcaico, falido e corrupto, do qual, espero eu, a Varig seja um dos últimos espécimes."
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ruynogueira@uol.com.br

Monday, May 08, 2006

Itamar, essa grande mala
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Após constatar o fel, o amargor, o rancor e os recalques que atormentam o pobre Itamar Franco, candidato de sí mesmo à presidência da República, em melancólica apresentação no programa Roda Viva, da TV Cultura, o homenageio com a republicação de artigo que escrevi em março de 2004.
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Como continua atual...
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ITAMAR FRANCO, ESSA MALA


“Se Itamar Franco fosse um objeto,
seria melhor perdê-lo do que achá-lo”
Sérgio Barleben



Itamar Franco é um eterno incompreendido.

Chego a pensar que toda a humanidade está errada, mas ele, tal qual uma personagem fronteiriça de Lima Barreto, é quem está certo.

Desafiando a lógica, desprezando antigos e consagrados conceitos, seguindo um, digamos, raciocínio particularíssimo, tal qual um Forest Gump jeca, chegou à presidência da sereníssima República e governou Minas Gerais. “Governou” é força de expressão, é licença poética, pois ele não governa nada, coisa alguma, sendo um diletante em tempo integral, atazanando a vida dos que querem fazer e construir.

Itamar é um dos melhores exemplos de como o Brasil tem insopitável vocação para glorificar a mediocridade, premiar a inoperância, louvar a incompetência. Com seu topete fora de moda, seus terninhos comprados na lojinha “Miami”, em sua cidadezinha, seu gosto duvidoso em se referir aos conterrâneos como “montanheses”, as costeletas ridículas que adotou recentemente...

Anuncia-se, agora mesmo, que está voltando de sua vilegiatura em Roma. Vai procurar o presidente da República, o tabaréu-chefe, e reclamar sua remoção para outras plagas. Não tem vida social em Roma, não aprecia o Doria Pamphilli, nem conseguiu dominar o idioma de Dante. Nesse ponto, e só nesse, ele está desculpado: como falaria um belo e razoavelmente complexo idioma se mal fala o português?

O embaixador em Roma é uma personagem que, mirada pela grande angular da moderna psicanálise, pode ser esmiuçada, patologicamente esquadrinhada, enfim, deixar as coxias e os camarins e, como uma tardia Elvira Pagã de Juiz de Fora, deleitar-nos com um strep-tease onde transpareça, além da ranhetice e da sabida improdutividade, sua verdadeira persona.

Itamar, na acurada análise de um psiquiatra amigo meu, tem permanente necessidade de afirmar-se como mineiro, recorrendo aos símbolos do Estado, para compensar o fato de ter nascido em um navio, em pleno litoral baiano, quem sabe em meio a uma daquelas tempestades tropicais que sacolejavam os vapores da Costeira e levavam o pavor aos humildes passageiros que haviam tomado um Ita no norte pra ir no Rio morar.

Mineiro ele não é. Nem nunca será. Se os próprios mineiros se encarregaram de criar e propagar uma idéia que se tornou verdade absoluta, a da sapiência intelectual e da matreirice política de que são dotados, como acreditar que um político que roça a mediocridade, homem provinciano (pior, municipal...) e administrador sofrível, possa transformar-se de um dia para outro em ícone do estado que é berço de Antônio Carlos (não o malvado babalorixá ACM, mas a “Raposa das Alterosas”), Milton Campos, JK, Bias Fortes, Gustavo Capanema, Tancredo Neves, Cristiano Machado, Santiago Dantas, Magalhães Pinto ?

Essa exacerbada mineiridade é uma forma de encontrar um ponto cardeal, que lhe faltará sempre, tanto na questão telúrica quanto na emocional. E aí, justamente aí, reside o drama de Itamar Franco.

A questão comportamental é a faceta mais violenta da personalidade do ex-governador das Minas Gerais. Ele é capaz de tudo – embora não seja um homem desonesto, pelo contrário. Mas ele se presta a papéis que vão das raias da demência ao mais completo ridículo.

Lembro-me bem que na campanha de 82, percorrendo o sul de Minas com o Dr. Tancredo Neves, num dia particularmente exaustivo, chegamos em um aviãozinho em Poços de Caldas e descemos a Mantiqueira visitando uma dezena de pequenas cidades até terminar a noite em Santa Rita do Sapucaí. Na casa senhorial dos Moreira, herdada pelo udenista Bilac Pinto, fomos recebidos por um simpático casal, Beatriz e Coriolano Beraldo. Uma mesa farta, daquelas que a hospitalidade dos mineiros costuma oferecer aos que visitam suas casas, nos esperava, e também a notícia de que o Senador Itamar Franco, em campanha na Zona da Mata, havia reclamado do voto vinculado e feito referências pouco elogiosas ao candidato de seu partido ao governo estadual. Tancredo, um dos políticos mais elegantes, respeitosos e convenientes que conheci em minha vida, um autêntico cavalheiro, segurou no ar a xícara de café e, com expressão grave, disparou o único impropério que escutei em quase um ano de estreita convivência: “Esse, é um filho da puta”. O silêncio foi total. Depois um comício grandioso, onde Tancredo eletrizou a multidão e pediu votos para Itamar, num exercício de dignidade incomum para o ressentido de Juiz de Fora.

Anos depois, na campanha de 94, em viagem pela região de Governador Valadares, numa das zonas mais carentes de Minas, Lula, em sua segunda tentativa de eleger-se presidente e chocado com o uso da máquina em favor de Fernando Henrique, o candidato oficial, disparou para jornalistas que acompanhavam sua “Caravana da Cidadania”: “O Itamar é um filho da puta”. Itamar, presidente da República, ofereceu resposta bisonha: “Não sou filho da puta, minha mãe se chama Itália Franco”.

Na campanha presidencial de 89, quando nosso herói, surpreendentemente, tornou-se o vice na chapa de Fernando Collor de Mello, ele foi a mais carimbada das figurinhas dos bastidores do pleito. Se para o grande público o histriônico Enéas Carneiro e o seu fascistóide Prona, eram motivo da mais absoluta chacota, para a imprensa e o meio político os potins mais deliciosos vinham das porraloquices do nosso agora embaixador Itamar.

Por mais de uma vez renunciou à candidatura. Depois renunciou à renúncia. Brigou porque o jato que o servia não tinha banheiro, enquanto o de Collor tinha um “excelente mictório” – segundo palavras suas – e ficou mais tempo recluso em seu apartamento de Juiz de Fora do que trepado nos palanques Brasil afora, naquela que foi a mais frenética e exitosa campanha eleitoral assistida pelos brasileiros desde a que elegeu Jânio Quadros, em 1960.

Desleal, conspirou durante todo o tempo contra o seu companheiro de chapa. Transformou sua suíte no Hotel Glória num permanente palco por onde desfilaram políticos decadentes, lobistas e amiguinhos da colônia mineira. A mesma massa ruim que lhe serviu de base para o governo sofrível que viria a fazer.

Presidente, por obra do impeachment, cometeu barbaridades como a da nomeação de uma jovem e bela engenheira, funcionária da ponte Rio-Niterói, para Ministra dos Transportes. Era de tal forma obtusa, medíocre, desimportante, que ninguém se lembra dela nem de seu nome. Ficou poucos dias no governo e demitiu-se de forma abrupta, na crista de um pequeno escândalo. Dona Cosette Alves, a inteligente e simpática ex-dona do Mappin, convidada para o Ministério da Indústria e do Comércio, renunciou no dia da posse, arrasada por um implacável artigo do colunista Giba Um, que desnudava tanto a convidada quanto o presidente que teve a péssima idéia de convocá-la para o seu time. Nepotista, nomeou um irmão, absolutamente despreparado, para superintendente da previdência social no Rio de Janeiro. É inesquecível a cena, mostrada pelos telejornais da época, em que o esquizóide é enxotado pela população de um posto médico, onde, identificado, protagonizou um bate-boca dos mais baixos possíveis.

Confrontado com a oportunidade histórica de reparar a clamorosa injustiça cometida contra o Capitão Sérgio Macaco, o herói do Parasar que se recusou a tornar-se um terrorista matando brasileiros inocentes por ordem do facinoroso brigadeiro João Paulo Penido Burnier, e foi cassado e aposentado na FAB, Itamar falhou. Falhou de forma covarde, mesquinha, pequena. Sérgio já era um vegetal, pesava pouco mais de 40 quilos, numa cama suportava mais o câncer que terminou por matá-lo do que a omissão de um governo fraco que se recusava a promovê-lo ao brigadeirato. Enquanto desfilava pelo sambódromo com a vulgaríssima Lílian Ramos sem a necessária (?) calcinha, Itamar se igualava aos que cassaram, prenderam e injustiçaram um dos mais notáveis exemplos de patriota e de militar digno, nas palavras sábias do saudoso brigadeiro Eduardo Gomes.

Numa camaradagem que ainda hoje custa caro aos cofres públicos, nomeou cupinchas de raro despreparo para cargos da mais alta responsabilidade. Para nossa Embaixada em Lisboa, enviou uma das figuras mais curiosas e improdutivas da vida pública brasileira, o José Aparecido de Oliveira. Não se pode dizer, em tal caso, que Itamar não tenha sido coerente e até sábio: que outro posto senão Lisboa para um político menor, provinciano, futriqueiro, inculto e – principalmente – monoglota?

Logo após, reservou para si o Palácio das Mil Flores, uma agradabilíssima e opulenta construção a poucos minutos do centro de Lisboa. Construiu um galinheiro nos fundos do palacete, talvez o fato mais marcante de sua passagem por aquela representação diplomática. Embaixador mais omisso, impossível. Depois uma esticada até a OEA, em Washington. Apesar de ter levado alguns áulicos consigo, até mesmo o seu mordomo, um rapaz jovem e bem-apessoado, de ter importado a, digamos, namorada (June Drummond, paga pela falida Golden Cross, mas isso é outra história), Itamar pareceu um peixe fora d’água, e curtiu sua ociosidade comendo pão de queijo e falando com a turma de Juiz de Fora em demoradas e dispendiosas ligações telefônicas internacionais. Nem inglês o preguiçoso se deu ao trabalho de aprender.

Elegeu o seu sucessor na presidência, é verdade. Elegeu, mesmo. Gostem ou não os tucanos. Elegeu por ter dado liberdade a Fernando Henrique e sua equipe para que fizessem o plano real, do qual reivindica a paternidade (ou a maternidade, no dizer do irreverente Serjão Motta). E ao levar FHC ao Planalto acreditou que voltaria quatro anos depois, numa troca de favores, numa retribuição entre comadres de Juiz de Fora, num toma-lá-dá-cá que lhe fascina. Não contava com a reeleição, comprada a peso de ouro, num dos capítulos mais sórdidos da história política republicana.

Ficou bravo, esperneou, voltou e tentou ser candidato do PMDB, partido que havia abandonado em 86 pelo PL, numa tentativa frustrada de se tornar governador de Minas Gerais. Do mesmo PMDB que ele havia abandonado em 89 para ser o vice de Collor, no pitoresco PRN. É claro que o partido lhe deu um adeus de mão fechada e ele, raivoso, foi para sua inefável e feia Juiz de Fora e mandou que os amigos votassem em Ciro Gomes. Que perdeu em Juiz de Fora...

Eleito, enfim, governador do Estado, num segundo turno com Eduardo Azeredo, Itamar protagonizou um dos momentos mais deselegantes da história política de Minas: sem compreender a grandeza e a civilidade do gesto do derrotado, que compareceu à sua investidura, pronunciou elegante discurso e desejou-lhe boa sorte, ele sequer olhou para Azeredo, comportou-se como um menino amuado, deixando escapar seu ressentimento, sua índole vingativa, sua ausência absoluta de fraternidade.

Governo desastroso, ineficiente, prosaico. Rasgou contratos, atrasou salários, quebrou o Estado. Sequer teve a coragem de ser candidato à reeleição. Apoiou o jovem Aécio Neves, que demonstrando imenso caráter, tem descascado os inúmeros abacaxis herdados, sem dizer palavra, reconstruindo Minas Gerais, que encontrou devastada pela inépcia de seu antecessor.

Lula, esse desastre administrativo, que um dia lhe chamou de filho da puta, o nomeou embaixador num país importante, estratégico para o Brasil. Difícil saber quem é pior.
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Um banquete fecal
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O ex-presidente Itamar Franco estará na noite de hoje no programa "Roda Viva", da TV Cultura de São Paulo.
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Chamam atenção alguns pontos bastante curiosos. O primeiro deles é a disposição da Cultura em ouvir quem nada tem a dizer. O segundo é a ausência absoluta de ridículo do sátrapa de Juiz de Fora, um ególatra que se crê iluminado para alguma missão que nem ele mesmo sabe qual é. E o último deles é a presença do velho jornalista Mauro Santayanna no elenco de entrevistadores. Amigo íntimo de Itamar, seu ex-funcionário na comunicação do governo de Minas Gerais e redator daqueles discursos cômicos onde o ex-vice de Fernando Collor chamava seus conterrâneos mineiros de "montanheses", Santayanna deveria homenagear o seu passado dispensando-se de tão rastejante função.
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Para os coprófilos, a ceia será inesquecível.
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Thursday, May 04, 2006

A defunta é canibal... Salvar o quê?
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AVE-MARIA!
Em um mês, saltou de 15 para 23 o número de aeronaves da Varig que estavam paradas por falta de manutenção. Entre outros, estavam estacionados quatro MD-11, três 777, onze 737 e um 767.
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CANIBAL
Executivos da Boeing que fizeram vistoria nas oficinas ficaram chocados: os aviões da empresa alugados pela Varig estão sem turbinas, sem pneus, sem instrumentos nas asas. Caso a Boeing conseguisse retomá-los de imediato, teria de volta aeronaves "peladas".
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(Folha de S. Paulo, 04/05/2004)
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