Indaiá, a que dá no couro
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Não resisto à tentação de dar espaço à uma leitora, comissária de bordo da defunta que me escreveu carta desaforada, brabíssima, esculhambando-me de forma primária, mas virulenta. Não fosse esse freezer que trago do lado esquerdo do peito, teria sucumbido ao Incor frente ao primeiro de seus ataques. Diz que sou feio, ruim e pequeno "como o seu nome".
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Depois, diz que eu devo ser um cara amargo, desalmado e sem amor. E vitoriosa, dizia que eu não devo "dar no couro", mas que ela, naquela hora - era plena madrugada quando seus dedinhos trocaram as taças de cristal trincadas da decadente primeira classe dos aviões que os credores reclamam na justiça, pelo teclado de seu computador - ela, bem-amada, iria "fazer gostoso" com o seu consorte.
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Achei que era alguém querendo depor contra as comissárias da defunta - pelas quais tenho tanto respeito. Mas, com uma sequência impressionante de asneiras, a moça iniciou um diálogo internético comigo e disse outras coisas que não publicarei apenas por pena e sincera comiseração.
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Quando nossa troca de e-mails acabou-se e ela deveria estar "dando no couro", eu sentia um misto de nojo e de dó daquela pobre diaba. Não vale nem o processo que pensei em lhe tacar. Logo, logo, desempregada, como poderia indenizar-me pelos absurdos que escreveu e assinou?
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Porém, fiquei matutando madrugada adentro sobre a feiúra e a pequenez de meu nome. Preciso conversar com meu pai, ele também, um Ruy. E se vivo fosse, falaria com o doutor Ruy Nogueira, meu saudosíssimo avô, um catedrático humanista que foi batizado por Herculano César Nogueira, meu bisavô republicano, em homenagem ao seu ídolo, Ruy Barbosa. Mas, vou falar com papai. Espero que você, se se sentir tentada, tenha coragem e converse com o seu velho pai, viu, comissária Indaiá?
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ruynogueira@uol.com.br
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